Ribeirão
Pires abre diálogo com alunos sobre bullying e bem-estar
Ação entre equipes pedagógicas, de
psicólogas e assistente social promove reflexão e escuta ativa dentro das
unidades de ensino municipais
A tragédia da última segunda-feira (27) na Escola Estadual Thomazia Montoro, na
capital paulista, trouxe de volta ao centro das discussões o comportamento, o
bem-estar e a segurança de estudantes e profissionais da educação. Na rede
municipal de Ribeirão Pires, que desde 2021 conta com serviço pioneiro de Apoio
Psicossocial Escolar, o episódio despertou o diálogo entre alunos e
especialistas da Prefeitura.
Na E.M. (Escola Municipal) Professor Sebastião Vayego de Carvalho, em Ouro
Fino, a equipe de pedagogos, psicólogas e assistente social da Secretaria de
Educação e Cultura abriu espaço na programação das aulas para ouvir os
adolescentes.
Desde a última semana, estudantes do 6º ao 9º ano do Fundamental participaram
de rodas de conversa dedicadas a reflexões sobre o papel e a contribuição da
escola, bullying, entre outras questões relacionadas à segurança e ao
desenvolvimento da comunidade escolar.
Entre desabafos e trocas de olhares, os jovens deram voz a sentimentos como o
medo, a solidão, a falta de diálogo com adultos, inclusive com a família. “Eles
trazem muito a queixa de não serem ouvidos em casa, na escola, em espaços onde
estão hoje sendo chamados de geração do ‘mimimi’, que na verdade podem ser
atitudes que nascem de um sofrimento. Nosso trabalho está pautado em acolher
este sofrimento”, explicou Alana Araújo Lima, diretora de Apoio Psicossocial
Escolar da Prefeitura.
“Esta roda de conversa que propomos é para a reflexão sobre as ações que as
crianças e adolescentes têm diariamente dentro e fora das escolas. Desde o
início do programa, com retorno das aulas presenciais, a gente vem trabalhando
em contexto preventivo, de escuta e remediativo”, detalhou a especialista.
Apoio Psicossocial Escolar
Os quase sete mil estudantes da rede municipal de Ribeirão Pires contam com
escuta e acompanhamento das equipes do APSE, serviço pioneiro de Apoio
Psicossocial Escolar. Desde sua criação até o fim de 2022, os profissionais do
programa acolheram 900 relatos feitos por alunos.
Entre os casos mais recorrentes está a prática de bullying. Em 2022, foram 18
acolhimentos durante todo o ano letivo. Somente entre fevereiro e março deste
ano, foram 30 relatos.
Implantado em contexto de pandemia do coronavírus, em junho de 2021, o APSE,
que conta com psicólogas e assistente social exclusivos para a rede de
educação, atuou inicialmente com os impactos da Covid-19 nos processos de
aprendizagem dos estudantes.
Em agosto daquele ano, as escolas municipais reabriram as portas para a
retomada gradativa de alunos. Em seis meses, 222 relatos foram registrados pelo
serviço de Apoio Psicossocial, sendo a maioria deles, 19,8%, ou 44 casos,
relacionados à dificuldade de relacionamentos interpessoais. Problemas com a
adaptação ao ambiente escolar (11,7%), nos processos de aprendizagem (11,2%) e
questões relacionadas ao núcleo familiar, como conflitos e luto (8,5%) figuram
nesta lista.
No ano letivo de 2022, já com 100% das atividades presenciais, o cenário mudou.
Dos 678 atendimentos prestados até dezembro, 235, ou 34,6%, foram relacionados
a questões comportamentais e 182 (26,8%) a sintomas de ansiedade.
Como resultado das ações, somente em 2022, o APSE registrou 435 escutas ativas,
realizou 200 visitas domiciliares, 21 encaminhamentos de alunos ao Caps I
(Centro de Atenção Psicossocial Infantil), 62 conversas com familiares de
estudantes e 30 atividades coletivas e lúdicas com as crianças.