Judoca representou o país em três Jogos Olímpicos e, agora,
assume missão de preparar sua sucessora para Paris 2024
Suelen foi uma das atletas mais completas da sua geração.
Foto: Beatriz Souza/IJF Suelen foi uma das atletas mais completas da sua
geração. Foto: Beatriz Souza/IJF
Após quase duas décadas defendendo a Seleção Brasileira de
Judô, Maria Suelen Altheman decidiu encerrar oficialmente sua jornada como
atleta de alto rendimento, aos 34 anos. A judoca escreveu uma brilhante
história no judô mundial, firmando-se como um dos maiores nomes do peso pesado
feminino (+78kg). Ao longo da carreira, foram três participações em Jogos
Olímpicos, nove Campeonatos Mundiais, dois Jogos Pan-Americanos e dezenas de
medalhas conquistadas no Circuito Mundial.
Sua última competição oficial pela seleção foram os Jogos
Olímpicos de Tóquio onde, infelizmente, Suelen sofreu uma das lesões mais graves
da suas carreira. Uma ruptura do tendão patelar do joelho esquerdo durante o
combate com a francesa Romane Dicko encerrou sua participação olímpica nas
quartas-de-final e impediu Suelen de realizar o sonho da medalha olímpica.
Em 2022, já recuperada da lesão, ela tentou retornar aos
tatames e competiu nos Jogos Abertos de Santa Catarina, conquistando o ouro,
tanto no peso pesado feminino, quanto no absoluto. Mas, foi ficando cada vez
mais difícil voltar à alta performance e as prioridades foram mudando, como
explica.
“Eu já vinha amadurecendo essa ideia de tirar o pé do
acelerador depois da Olimpíada . Lá, eu acabei me machucando,
cheguei no Brasil, fiz uma cirurgia de joelho e, no tempo de recuperação,
amadureci ainda mais a ideia de parar. Eu não tinha tanta vontade de voltar a
treinar e, conversando com alguns colegas que também passaram pelo processo, vi
que realmente estava chegando a minha hora. Parecia que eu não tinha mais
inspiração e motivos para voltar”, explicou.
Suelen é natural de Amparo, interior de São Paulo, e iniciou
no judô aos dez anos de idade, em um projeto social perto de sua casa. Nos 24
anos de tatame, defendeu clubes como São Caetano, Associação Rogério Sampaio e,
por fim, o Esporte Clube Pinheiros. Foi neste último que, a convite de Tiago
Camilo e Leandro Guilheiro, iniciou o processo de transição da carreira de
atleta para a de treinadora.
“Era uma coisa que eu tinha muita vontade de fazer: poder
trabalhar com os atletas e estar do outro lado agora. É engraçado que os planos
continuam os mesmos. É sempre medalha e resultados. Só que, agora, é com os
atletas. É um prazer diferente, mas o objetivo é o mesmo. Se eles estão
felizes, eu estou feliz. Se eles estão tristes, eu procuro uma forma de ajudar.
Estou muito feliz com essa nova fase da minha vida”, expôs.
Vice-campeã mundial duas vezes, Suelen vem de uma das
gerações mais vitoriosas do judô feminino brasileiro. Ao parar de competir,
tenta seguir o mesmo caminho de suas contemporâneas Sarah Menezes e Erika
Miranda, suas contemporâneas de seleção que também tornaram-se treinadoras.
Enquanto Sarah atualmente lidera a Seleção Feminina Brasileira ao lado de
Andrea Berti, Erika aceitou o convite da Federação Alemã para trabalhar com as
judocas daquele país. Um grande passo para a modalidade, que a cada dia vem
tendo a presença de mais mulheres técnicas no alto rendimento.
“É bem gratificante ver essa geração que era da mesma equipe
se tornando treinadoras. Antes só tinha a Rosicleia Campos e a Andrea, que era
da base e agora subiu pro sênior. Acabava que o judô era visto como um esporte
masculino, apesar de ter a categoria feminina. É muito bom ver a mulherada
ganhando cada vez mais espaço, porque a mulher tem muito a passar e tem muito
conhecimento. E também tem essa parte que a mulher precisa de outra para
conversar e ter uma troca. Eu acho que a evolução do judô feminino vem muito
dessa união do grupo”.
Em 17 anos de Seleção Brasileira, Susu colecionou quase 60
medalhas em competições internacionais. Foram três em Mundiais (2 pratas e 1
bronze); e três em World Masters; 18 em
Grand Slam; nove em Grand Prix, fora as conquistas continentais. Com certeza um
legado gigantesco que deixará para o judô feminino brasileiro, especialmente,
para as meninas mais novas da sua categoria. É o caso de Beatriz Souza, que no
último ciclo disputou a vaga olímpica com Maria Suelen e, agora, é preparada
pela mesma para os Jogos de Paris 2024.
“A minha disputa com a Bia foi muito saudável. Acho que uma
cresceu com a outra. Ela me motivou muito a ir para a Olimpíada. Eu falo que
ela foi meu combustível. Tinha uma disputa dentro do tatame, mas tinha uma
amizade fora. Essa troca, poder ajudá-la
e ver o tanto que ela evoluiu é muito prazeroso. Era a categoria que eu
competia, então fico feliz de tê-la como representante”, ponderou.
Maria Suelen encerra sua carreira competitiva com a certeza
de que não abandonará o judô nem tão cedo. Agora, ela inicia uma nova fase no
esporte convicta de que, como atleta, viveu tudo o que tinha para viver e se
sente realizada.
“Eu fui muito feliz na minha carreira. Independentemente de
não ter conquistado a medalha olímpica, eu me realizei. Fiz muitos amigos e
conheci grandes pessoas que vou levar para o resto da minha vida. O judô é uma
família, porque a gente convive muito junto. Faltou a medalha olímpica, mas não
é isso que vai me deixar triste. Eu fiz tudo o que poderia ter feito,
aproveitei bastante tudo isso aqui”, refletiu.
ENTREVISTA:
Conquista mais marcante?
R: “Foi a disputa do bronze no Mundial de 2021, que foi onde
eu ganhei da cubana . Ela era, até então, a atleta que eu nunca
tinha ganho”.
Adversária mais difícil?
R: “Ela!”
Melhor lembrança?
R: “As conquistas que a equipe teve no Mundial: 2013 com o
feminino e depois em 2017, quando o feminino e o masculino passaram a lutar
juntos. Competição por equipe marca muito”.
Momento mais difícil?
R: “Eu me lesionar na Olimpíada e não ter chance de voltar.
Eu estava nas quartas de final e ali eu já estava me preparando para encerrar a
carreira. E era uma Olimpíada que eu estava muito preparada psicologicamente e
treinada também, sabe? Eu sabia que era a última, já que não tinha mais vontade
de fazer outro ciclo”.
Uma luta inesquecível?
R: “Acho que com a Idalys, não tem como. Ela foi uma atleta
que marcou muito minha carreira. Ganhar dela em uma disputa de bronze, no
Campeonato Mundial, onde eu vinha de 16 derrotas, foi quebrar um tabu”.
Principais resultados
- Jogos Olímpicos: Londres 2012 (5º lugar), Rio 2016 e
Tóquio 2020 (7º lugar)
- Jogos Pan-Americanos: Bronze Guadalajara 2011 e bronze
Toronto 2015
- Mundiais Individuais: prata Rio 2013, prata Chelyabinsk
2014 e bronze Budapeste 2021
- Mundiais Por Equipes (feminina e mista): prata Rio 2013,
prata Budapeste 2017, bronze Tóquio 2019 e bronze Budapeste 2021
- World Masters: prata Tyumen 2013, bronze São Petersburgo
2017 e bronze Guangzhou 2018
-Campeonatos Pan-Americanos: 1 ouro, 3 pratas e 5 bronzes
- 18 medalhas em Grand Slam: 05 ouros, 03 pratas e 10
bronzes
- 9 medalhas em Grand Prix: 03 ouros, 04 pratas e 02
bronzes.