Os santistas que foram à Vila Belmiro e os milhares que não
puderam ir viveram um pesadelo na noite desta quarta-feira. Depois de flertar
com o rebaixamento em dois anos seguidos, o Santos não encontrou forças para
escapar da queda e vai disputar a segunda divisão nacional pela primeira vez em
sua história.
A queda à Série B foi consumada com a derrota por 2 a 1 para
o Fortaleza na Vila Belmiro e as vitórias de Vasco e Bahia, que estavam atrás
do Santos na tabela, mas ultrapassaram a equipe paulista com seus triunfos em
casa.
Em 2022 o Santos perdeu o seu ídolo máximo, Pelé, o maior
jogador de todos os tempos. Em 2023, viveu seu mais profundo calvário. Como
resultado, em 2024, não vai disputar a Série A nem a Copa do Brasil.
Depois de uma pequena demonstração de fôlego na reta final
do Brasileirão, o Santos entrou em espiral de queda ao amargar cinco partidas
sem ganhar. Na Vila Belmiro, fez mais um jogo ruim. Lutou muito, é verdade, mas
não há como mostrar futebol quem não tem. Talvez nem Pelé seria capaz de
consertar esse inábil Santos.
Pelo terceiro ano seguido, a luta do Santos foi para não ser
rebaixado no Brasileirão. Nos dois anos anteriores, flertou com a queda em boa
parte da competição, ainda que não tenha chegado à última rodada com risco de
cair. Terminou em décimo e 12º, respectivamente. Neste ano, o calvário se
aprofundou. Foram rodadas dentro da zona da degola e outras muito próximo dela
até que o pior aconteceu.
A queda é resultado, sobretudo, de sucessivos erros da
gestão de Andrés Rueda, que deixará a presidência em breve – a eleição para
escolher um novo presidente será no próximo sábado. Rueda sairá do cargo e vai
entregar o clube na segunda divisão e com as finanças ainda prejudicada e
odiado pelo torcedor, que xingou o presidente antes mesmo de Vuaden apitar o
fim do jogo.
“O Santos fica na Série A. Não penso o contrário. Eu não
considero risco de rebaixamento. O Santos é ‘incaível'”, dissera ao Estadão
Rueda neste ano. Desde o início da temporada, o clube se colocou em uma posição
de lutar contra a queda. Tanto que chegou à última rodada com chance de
disputar a Série B em 11,1% dos cenários e as combinações catastróficas para os
santistas aconteceram.
Incapaz de ser um conjunto competitivo, o Santos, dá pra
dizer, se esforçou para ser rebaixado. Na partida derradeira, foram muitos os
lances que irritaram os santistas nas arquibancadas. Nem mesmo o baleião,
mascote que tentava animar a torcida, escapou da ira dos sofridos santistas.
“Some daí, não serve pra nada”, gritou um zangado torcedor.
A revolta dos santistas aumentava a cada lance de ataque
mal-acabado. Soteldo e Marcos Leonardo eram um oásis em meio a atletas
esforçados, mas com poucos recursos – ou nenhum, em alguns casos. Jean Lucas
talvez tenha sido protagonista do lance que resume o calvário do Santos. De
volta da Europa neste ano, o meio-campista perdeu de forma burlesca um gol na
pequena área. Livre, quando foi chutar, não acertou a bola, e sim o chão.
Um ex-jogador do Santos fez a raiva dos santista subir de
nível. Marinho, vaiado e xingado desde que pisou no gramado, deu o troco. A
zaga esqueceu que o atacante estava no sozinho no ataque e em posição legal e
deixou o atleta avançar em direção a João Paulo e balançar as redes.
Se não bastasse a provocação dos rivais e todo o sofrimento
causado pelo Santos, os torcedores tiveram de engolir uma provocação do
ex-santista. Marinho ordenou que a torcida se calasse e pôs os dedos
indicadores nas têmporas. Talvez atônitos, sem força para reagir, cansados de
tamanho calvário, eles aquiesceram.
O Santos foi tão incompetente que a única alegria ao
santista quem deu no primeiro tempo foi o Atlético-MG, quando empatou o seu
jogo com o Bahia. “Nós temos que torcer para o Atlético, não tem jeito”,
lamentou-se um torcedor sem camisa, descalço e zangado sentado em uma das
cadeiras centrais. Ele puxava o cabelo e rezava, com seus dois terços – um no
pescoço, outro no punho – ao passo que os minutos transcorriam e a tensão aumentava.
Se era ruim o cenário, tornou-se um pesadelo quando, com o
primeiro tempo encerrado na Vila Belmiro, chegou a notícia de que o Bahia havia
marcado o segundo gol em Salvador.
Foram melhores as notícias no segundo tempo. O torcedor pôde
sorrir quando Messias fez, de cabeça, o gol de empate aos 12 minutos. E, pouco
depois, quando soube que o Bragantino foi às redes e empatou com o Vasco,
resultado que rebaixava o time carioca e mantinha na Série A o Santos.
As informações foram positivas só no início da etapa final.
Nenhum gol saiu mais na Vila Belmiro. Improdutivo, o ataque mal incomodou a
zaga do Fortaleza. Para piorar, o Bahia fez o terceiro e o quarto e o Vasco, o
segundo. Ambos ganharam e se livraram do rebaixamento. Quem vai disputar a
segunda em 2024 é o Santos.